É possível reciclar concreto?

Usado desde a era romana massivamente em construções das mais diversas escalas, é quase impossível pensar em uma edificação que não tenha ao menos um elemento em concreto. De fato, trata-se do material de construção mais utilizado no mundo, por sua versatilidade, resistência, facilidade de manuseio, valor acessível, estética, entre outros fatores. Ao mesmo tempo, sua manufatura também é um dos principais poluidores na atmosfera, sobretudo pelo fato de a indústria de cimento emitir por volta de 8% de todas as emissões mundiais de dióxido de carbono (CO2).

Mas além da sua produção intensiva, tratando-se de um material tão rígido, pesado e composto por cimento, água, pedra e areia, seria possível dar um uso sustentável ao concreto após a demolição, sem destinar os resíduos como entulhos a locais indevidos, ou sobrecarregando os aterros sanitários? 

Capela de Campo Bruder Klaus / Peter Zumthor. Image © Samuel Ludwig
Capela de Campo Bruder Klaus / Peter Zumthor. Image © Samuel Ludwig

Sim, ainda que não seja tão simples, é possível utilizar os resíduos de concreto para fabricar novas peças estruturais, com boas resistências a cargas e para usos nobres. Primeiramente é importante entender que a extração intensa de areia e britas, os agregados miúdos e graúdos do concreto, respectivamente, exerce um impacto ambiental enorme, ainda que geralmente sejam explorados localmente. Ainda que seja o cimento o material que libere as maiores quantidades de dióxido de carbono para sua produção, buscar a conservação dos recursos naturais ao reduzir a necessidade de mineração de cascalho e areia já é um ganho ambiental enorme, principalmente se pensarmos na quantidade de concreto produzido diariamente no mundo.

Blade House / Takt Studio. Image © Shantanu Starick
Blade House / Takt Studio. Image © Shantanu Starick

Na prática, após a demolição das peças estruturais, é possível triturar o concreto em máquinas especiais, para que os fragmentos sejam posteriormente classificados por tamanho. Metais como vergalhões são aceitos, uma vez que podem ser separados através de grandes ímãs e separados para o destino adequado e posterior reciclagem. Apenas concretos com substâncias contaminantes, como pigmentos, sulfato de cálcio, cloretos e óleos podem trazer prejuízo às propriedades, e não devem ser utilizados como matéria-prima. Sempre que possível, o mais interessante é realizar a trituração no próprio canteiro de obras, o que reduz os custos de construção e a poluição gerada quando comparado ao transporte de material de e para uma pedreira.

© Coastal Girl / Shutterstock
© Coastal Girl / Shutterstock

Cerca de 60% do que é triturado pode ser usado para processos de downcycling (recuperação de materiais com uma gama de usos mais limitada que o material original) Esses fragmentos podem ser usados como materiais de base para estruturas, como estradas, por exemplo. É também possível que o agregado saído dos trituradores possa substituir as britas presentes no concreto, respeitando a glanumetria especificada em projeto. Ou seja, no lugar de pedras naturais, utiliza-se o concreto triturado. Já há legislações que tratam sobre o uso de concretos reciclados e os cuidados a se ter. A diretriz do Comitê Alemão para Concreto Estrutural (DAfStb), por exemplo, prescreve um limite para a proporção de agregado reciclado em 45%. Em 2006, testes de materiais na Suíça mostraram, no entanto, que o concreto de alta qualidade pode ser produzido mesmo com o uso de mais de 90% dos agregados feitos de sucata. [1] O concreto resultante acaba com características estruturais muito semelhantes ao tradicional.

<a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:20_to_40mm_recycled_aggregates_(6069277558).jpg">Peter Craven</a> [<a href="https://creativecommons.org/licenses/by/2.0">CC BY</a>]
Peter Craven [CC BY]

Ainda que seja bastante louvável a reutilização dos agregados para a produção de novas estruturas de concreto, é importante mencionar que isso não representa um ciclo fechado de reciclagem do material, já que a nova estrutura não pode ser feito de concreto triturado sem a adição de mais cimento, areia e água. Inclusive, estudos desenvolvidos na Suíça mostraram que o uso de agregados reciclados até pode economizar matérias-primas abióticas (areia de cascalho), mas pode aumentar o consumo de energia e as emissões de gases de efeito estufa se, devido a um maior conteúdo de vazios, mais cimento for usado para fabricar o concreto [1]. 

Ningbo Historic Museum / Amateur Architecture Studio. Image © Evan Chakroff
Ningbo Historic Museum / Amateur Architecture Studio. Image © Evan Chakroff
Hanil Visitors Center & Guest House / BCHO Architects. Image © Yong Gwan Kim
Hanil Visitors Center & Guest House / BCHO Architects. Image © Yong Gwan Kim

Quando abordamos o assunto sustentabilidade, o mais importante é entender a maior parte das variáveis e os fatores que impactam no resultado final. Há diversos pesquisadores focados em tornar o concreto um material mais sustentável e a cada dia surgem novos estudos sobre o tema, seja através da reciclagem, da mistura mais sustentável entre agregados reciclados ou não e mesmo através de processos que tornem a produção deste material menos prejudicial ao meio ambiente. 

Fonte: Eduardo Souza, Archdaily.

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